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Que ninguém acorde na escuridão de um “dia livre de impostos”

Raquel Capanema

Que ninguém acorde na escuridão de um “dia livre de impostos”

22/5/2025

Imagine acordar sem o recolhimento de impostos. Pensando de forma individual, parece bom, um ganho financeiro. Mas espere até abrir os olhos e se deparar com um apagão de serviços públicos.

Você acorda e não há luz nem água  — porque ninguém pagou o imposto que garante a rede pública de geração-transmissão-distribuição de energia elétrica e de água. Seus filhos não vão à escola — porque ninguém pagou o imposto que garante o funcionamento das escolas públicas, e ela está fechada. Ninguém de sua família recebe atendimento no posto de saúde ou na UPA — porque ninguém pagou o imposto que garante o funcionamento do SUS, com isso o Posto e a UPA não abriu. A comida estraga nos estabelecimentos e nas prateleiras, e ninguém viu — porque a Vigilância Sanitária, sem os recursos dos impostos, foi extinta. A sirene da ambulância não toca — porque o motorista, o enfermeiro, o paramédico e demais profissionais, sem os recursos dos impostos, não têm como trabalhar. O lixo apodrece na calçada. A rua vira terra. O sinal não acende. O remédio não chega na Farmácia Popular. Não tem Bolsa Família nem BPC. A fila do SUS não existe mais — nem o SUS. O que sobrou foi só o barulho das portas fechando e todos correndo em busca de soluções privadas, privilégio de alguns.

Bem-vindos à realidade do "dia livre de imposto": o dia em que o Estado é desligado da tomada e o que sobra é o caos. Não é promoção. É distopia. Não é economia. É abandono e falta de espírito público e solidariedade social.


O cenário apocalíptico é completamente real se considerarmos a remoção deste pilar (imposto) fundamental para sustentar a vida em sociedade (esmagadoramente constituída por uma população carente, que precisa dos serviços públicos). A AFFEMG, Associação dos Funcionários Fiscais do Estado de Minas Gerais, defende uma sociedade ancorada em direitos, e não existem direitos sem Estado, nem Estado sem impostos. Lamentamos narrativas publicitárias equivocadas e individualistas, o que combatemos com solidariedade, baseado em dados, argumentos técnicos e educação fiscal.Veja, por exemplo, neste artigo publicado em 3 diferentes jornais, em 2022.



Agenda tenebrosa
Cuidado. No próximo 29 de maio, mais uma vez o comércio tentará vender a ideia sedutora (e enganosa) de que os impostos são vilões. Será?

Entendemos que o Brasil precisa de um debate sério sobre o sistema tributário, o que já vem ocorrendo com a Reforma Tributária do consumo, mas é preciso rejeitar soluções simplistas para problemas complexos. Começa por educação fiscal e esclarecimento.


A verdade contra-ataca  
O conhecimento e informação é fundamental, por isso apresentamos um outro olhar para o tema. Temos fortalecido o apoio às iniciativas de educação fiscal através do Prêmio Nacional de Educação Fiscal. Apostamos em anúncios e informes publicitários como este, no jornal Brasil de Fato (foto abaixo) e divulgamos nossos conteúdos para imprensa, influenciadores e sociedade em geral.

Anúncio publicado no Jornal Brasil de Fato

Podemos e devemos avançar
Claro, ninguém está dizendo que o sistema tributário atual é perfeito. Ele precisa, sim, da implementação de uma reforma ampla, que combata desigualdades e promova a progressividade, de forma que pague mais quem tem mais. O que não podemos aceitar é o atalho fácil de um discurso populista que transforma um problema complexo em uma campanha de marketing descompromissada com a verdade e com a solidariedade.

Por isso, convidamos você a olhar além do rótulo e refletir. Não precisamos de um dia livre de imposto. Questione o que de fato se está “comemorando” neste dia. Precisamos de um país com justiça tributária, com cidadania fortalecida e com políticas públicas sustentáveis.


No dia 29 de maio, enquanto as vitrines alardeiam o suposto alívio no preço, lembre-se: um desconto passageiro não vale o apagão permanente dos direitos sociais.

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